Paixoes e Mudanças

Como alguém vira cozinheiro? Sempre cozinhei em minha casa, na casa de meus sogros e na casa de amigos, experimentando sabores diferentes nem sempre bons, com algumas especialidades (nhoque, panqueca muqueca e arroz com frango), mas nada profissional só por prazer mesmo.
Depois do boom de escolas de gastronomia e da glamourização da profissão, acredito que algumas pessoas cresçam com esse objetivo. Mas há pessoas que caem de pára-quedas na beira do fogão e nao saem mas. O meu caso não foi diferente. Técnico em informática e web designer, sempre estive trabalhando com informática, mas desde que cheguei a Espanha experimentei alguns mundos diferentes, entre eles colher azeitona, ajudante de pedreiro, ajudante em uma fábrica de doces tipicos de Andalucia, em informática (como nao podia deixar de ser) e finalmente a cozinha.
Procurava trabalho e consegui um teste no restaurante Plaza de Toros e foi aí que eu tive a certeza que a cozinha era a minha casa, que aquele fogão de oito bocas e aquela variedade de sabores e odores tinham nascido para mim e eu para eles. E meu mestre – Manolo Munhoz, Chef de Cozinha – demonstrava uma paixao e uma incrivel criatividade com a comida, tão grande que aquilo foi me contagiando. Amei a idéia de as pessoas não só olharem, mas comerem minha obra de arte.

Passado o teste de 2 semanas de estágio, fui contratado pelo restaurante foi quando um amigo me chama para outro trabalho no qual ganharia mais tive duvidas. Fiquei feliz por ter sido chamado, mas sabia que não conseguiria viver longe daquilo que eu tinha vivido nas últimas semanas. Não aceitei. Meus amigos levaram um susto, acertei meu salário e horários e assim coloquei os dois pés na cozinha.

Passei ali por dias difíceis mas muito compensadores descobrindo na prática como era esse negócio de trabalhar em uma cozinha. Fiz amigos e redescobri a paixao de aprender e como cozinhar uma paixao que eu não sabia que tinha.
Durante esse tempo ainda nao vi a pitada do glamour que eu sempre ouvia falar (quem conhece cozinha de restaurante sabe do que eu estou falando). Mas continuo pilotando o fogão em um calor digno do deserto do Saara. Entendi que o glamour só existe para quem olha de fora.
Completo este ano 31 anos de vida, e 7 meses de cozinha. E quero me especializar mais. Até porque a cozinha não pára: enquanto está todo mundo descansando, nós estamos batendo panelas desde cedo, sempre pensando em um novo jeito de surpreender quem come nossa comida. Esse desejo de novas descobertas me levam a uma temporada em uma nova cozinha em uma regiao onde tudo é diferente. Espero aprender mais e continuar aprendendo e fazendo bem meu trabalho.