SOLIDAO

A solidão de quem mora no exterior é diferente da solidão de quem mora em casa.
Eu sempre gostei de ficar sozinha. Era uma solidão agradável com sabor à liberdade, pois eu podia matar as saudades de tudo e de todos quando eu quisesse.


Mas quando a solidão é vivida por falta de opção, aí passa a incomodar. Sentir saudades de colo de mulher e não poder abraçar, sentir vontade de ouvir as palhaçadas da filha e dos sobrinhos e ficar só com o som na memória, sentir saudades de jogar vídeo- game com um amigo e fingir que deixou ele ganhar ( lutando muito pra isso não acontecer); sentir falta daquele papo- furado e só ter as lembranças. Sentir falta de tudo que é familiar e nunca perder essa sensação de ser imigrante, de nunca sentir- se em casa.

Quando você mora no exterior, sentir saudades e dar valor à coisas que você nem dava muita importância antes passam a ser frequentes. Aquele trabalho que você reclamava tanto, passa a não ser tão ruim; os problemas do dia a dia, já não incomodam. Os cheiros, os sons, os gostos ficam fortes, tão presentes.

Não dá pra esquecer quem somos e o que nos formou. O verde- amarelo corre junto com o sangue nas veias. Você chora com as notícias ruins que vêm sempre tão constantes. Você torce muito para que dê certo, para que a violência diminua, que tenha trabalho pra todo mundo e que os salários subam, que as pessoas sejam muito felizes.

Felizes? Quando a gente mora no exterior é que percebe forte mesmo que o brasileiro apesar de todas as dificuldades, é um povo feliz, que sabe viver. Você compara com os povos de primeiro mundo e vê que a maioria é muito cinza, e que os que são mais alegrinhos têm alguma “mistura” na família.

Eu acho que no fundo eles não entendem o brasileiro: como pode…num país com tanta violência, fome e diferenças sociais, o povo ser tão feliz?! Felicidade está intimamente ligada ao dinheiro pra eles.
Eu acho mesmo é que eles sentem uma inveja danada.